Em 2022 eu fiz um monte de coisa pra me ajudar a relembrar do ano uma vez que tivesse acabado, entre diários informais em cadernos rabiscados, uma playlist que eu fui alimentando desde janeiro e um arquivo no docs dividido em 12 em que eu escrevia todo último dia do mês.
Olhando agora pensei, caramba, quanta vida cabe num ano. Quanta delícia, quanto rolo, quanto revertério, dentro e fora, fora e dentro.
Em 2022 eu comecei a ler poesia tive covid 2 vezes (talvez 3) virei anfitriã do airbnb perdi meu avô materno comemorei 90 do paterno entrei em cavernas voltei a ir a shows ouvi muitos podcasts escrevi sobre leite ninho e nutella exaustão cufa passei temporadas em floripa conheci um país novo estudei arquétipos tomei ayahuasca tomei passe
cantei pro lula em copacabana me angustiei com o agronegócio depredando o cerrado mares subindo lixo se acumulando cisões sociais falta de gentileza e mentiras fundamentais que persistem
tive grata serena serelepe repleta
tive estresse insônia rabugices vazios
me aprumei no eixo de novo e de novo ampliei perspectivas arrumei as gavetas finalmente comprei um suporte pra deixar o notebook na altura dos olhos
percebi que tem coisas tão multifatoriais quanto minha dor na cervical
e vivi meio assim, sem vírgula.
Quando criança eu tinha um brinquedo, “puxa-puxa” acho que chamava (na internet vi como “water snake”), era um cilindro de plástico com uma gosma dentro. Se apertava ele subia ou descia, entrando em si mesmo, e a brincadeira era justamente tentar agarrá-lo sem deixar cair.
Esse ano eu senti com frequência que o tempo me escapava que nem um troço desses, que as coisas passavam sem que eu conseguisse apreendê-las ou apreciá-las ou sofrer com elas com inteireza.
O que também tem a ver com o fato de que possivelmente eu me proponho a coisas demais em uma tentativa de espremer todo suco da vida.
E isso me trouxe uma reflexão muito grande sobre a necessidade de reconhecer o ritmo que meu corpo dança.
Uma das coisas mais potentes que eu ouvi esse ano foi sobre a necessidade de abraçar a crueza da experiência de estar aqui, agora, em 3D, acordada & minimamente atenta
lidando com minutos e minúcias entre meses que voam.
Porque estar em si realmente absorvendo o momento presente é imperfeito e insuficiente e sempre tem algum desconforto.
Tem coisas que a gente precisa que terminem pra fazerem sentido.
Esse ano pra mim foi uma espécie de intertemporada, entre um desenlace e um início, ainda que eu não consiga determinar concretamente o que terminou e o que está começando.
Eu aliás passo bastante tempo habitando elucubrações do que pode vir a ser, do que posso vir a ser, em uma ânsia de transformação que às vezes me parece muito digna, às vezes meio distrativa.
Mas também já percebi que não adianta correr: as respostas não vão vir mais rápido.
Existe um processo de maturação inevitável de tudo
e os caminhos se desvelam tortos, sobrepostos, cifrados.
De qualquer jeito, acho que o melhor jeito de segurar o “puxa-puxa” do tempo é sem desespero
aceitando os eventuais escapes
às vezes se engolindo
para sair do outro lado
um pouco mais esperta.
Esse ano eu tive o prazer de ver a banda argentina Perotá Chingó em SP. E relembrei essa música e esse vídeo tão delícia.
As palavras mais pesquisadas no Google em 2022 no Brasil e um videozinho bem editado relativo ao termo mais pesquisado no mundo: “can I change…”.
5 dicas para aproveitar o fim de ano para se desligar das redes sociais.
Como entusiasta de jogos de tabuleiro, adorei conhecer o Imagine, uma espécie de Imagem & Ação mas que propõe cartas com figuras para representar o que precisa ser adivinhado. Bom para desviar possíveis conversas conflituosas com a família no fim de ano.
Aliás, não é o meu caso, mas, mesmo assim, Como amar um pai bolsonarista, da Tati Bernardi, valeu a leitura.
Demos início à temporada Caprica e tá muito bom esse “quase tudo sobre Capricórnio” do podcast Horoscopinho pra entender a energia do signo na nossa vida.
Na vibe do que eu escrevi sobre excesso de estímulos, vi esse post com uma fala da escritora Maria Valéria de Rezende, que fez 80 anos em 8 de dezembro.
Que linda a coleção do João Incerti pra Riachuelo (não me agrada indicar riachuelo mas me agrada apoiar o belíssimo trampo dele).
Existem muitas pesquisas ligando a oxibenzona (benzofenona-3), presente na grande maioria dos protetores solares (Nivea e afins), com impactos negativos em recifes de corais e na reprodução de animais marinhos. Isso causou uma onda de novos produtos “reef-friendly” ou “reef-safe”, que não contêm essa e outras substâncias que podem ser prejudiciais pros bichos e pro corpo – nas farmácias, encontrei o Be Veg da Farmax, que pelo que sondei tem uma das fórmulas mais “limpas” entre marcas convencionais. Entre marcas nacionais que já nasceram mais naturais têm a Ozu e a Raiou.
Acabei de ler em uma sentada só “Futuro Ancestral”, livro novo com palestras e falas do Krenak, sempre tão sintético e lúcido. Eu quero morar no mundo que ele imagina.
Estou organizando uma vaquinha para uma família em situação de pobreza extrema em SP que ajudo desde o início do ano. Se você está procurando uma doação de Natal pra fazer, te convido a conhecer a história da Monique e, se puder, colaborar com um pouquinho para uma casa nova pra ela.
Agradeço imensamente a quem me leu este ano, em que escrevi menos do que gostaria, mas, pelo menos, escrevi.
Lanço pra mim mesma em 2023 o eterno desafio da periodicidade consistente.
Agradeço as mensagens recebidas e as citações tão generosas sobre a Descomprimindo, como a do Estadão e das ótimas Luciana Andrade (da flows), Paula Nazarian (da NewZ da NAZA) e Priscila Pacheco (da Mulheres Falam), mulheres que eu gosto tanto de ler.
A possibilidade de jogar palavras no mundo e essa troca me alimentam o espírito.
até mais e boas festas,
Betina
Genial!
Seus textos dão um quentinho no coração! Que 2023 seja leve ✨️