Uma vez eu li que uma pessoa na Idade Média recebia durante toda a vida a mesma quantidade de informação que hoje cabe em uma edição de domingo do jornal (aquelas gordonas, de papel mesmo, que existiam há um tempo).
(não sei se isso é real de fato porque não reencontrei a fonte, mas de qualquer jeito vale a reflexão)
Pirei nisso porque com muita frequência me sinto soterrada de informações e estímulos e opções.
E deus me livre voltar para um tempo de escuridão e escassez de possibilidades como aquele.
Mas tem algo muito nocivo nesse excesso de notícias alarmantes e novas temporadas de séries e vídeos dançantes e notificações de aplicativos e abas abertas e mensagens não respondidas e tanta gente falando, tanta coisa para ser sabida.
E tão poucas oportunidades silêncio, tão pouco tempo para assimilar o que se ouve-lê-assiste, tão pouca apreciação por olhar para o nada, fazer o nada, sentir o nada.
Acho interessante essa ideia dos psicanalistas do Float Vibes de entretenimento crônico para pensar o hiperconsumo atual de streaming, reality shows, TikTok, etc. Esse frenesi coletivo de ocupar cada brecha do dia com um pouquinho de conteúdo e assim se distrair ininterruptamente.
Sem tempo para repousar na existência.
“Entretenimento crônico é quando a excitação é tão contínua que se torna inércia” 😵
Outro dia folheei o livro Nação dopamina, no qual uma psiquiatra americana fala sobre como há um acesso sem precedentes a estímulos de alta recompensa relacionados a redes sociais, drogas, álcool, memes, comida, jogos, compras online e sexo ruim.
E como isso traz compulsão, ansiedade, dificuldade de concentração, sensação de insuficiência, afastamento das pessoas e da natureza da vida e, para todos os efeitos, uma infelicidade terrível.
Uma sociedade ao mesmo tempo conectada e alheia do que acontece ao redor. Que lucra e sofre com tudo isso.
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E aí, como faz para regular essa dosagem?
Achei fofo o que uma amiga me disse outro dia, que a avó dela tem um momento específico dedicado a “usar a internet”. Ela almoça, toma um cafezinho e diz: “agora vou ficar um pouco no celular”.
Talvez por ter passado quase toda a vida adulta em tempos analógico – e, possivelmente, por estar aposentada – ela não tenha o ímpeto de introduzir um estimulozinho audiovisual a cada meio minuto.
Aí pensei que ajuda tentar ter um tempo separado para cada coisa, com menos estímulos fundidos um no outro.
Uma respiradinha antes de sucumbir e checar o zap mais uma vez. Uma pausinha antes de deixar entrar o “próximo episódio”. Um tempinho de ócio para olhar pela janela do busão.
Percebo que, quando não estou na Cidade Grande, é mais fácil. Quando tem mais espaço e grama e menos luzes artificiais e barulho, consigo deitar na rede e ouvir o vento.
Porque, nessa toada doida, a gente também perde a capacidade de contemplação, de desfrutar do que é mais sutil e menos eufórico.
PS. Tem toda uma gama de coachs e afins no Youtube falando de “jejum de dopamina”. Vou entrar nesse buraco do coelho e ver o que sai.
Essa semana ouvi dois episódios de podcasts com a socióloga Esther Solano, que pesquisa o eleitor moderado do bozonaro nas classes C e D. Na Ilustríssima, da Folha, ela dá uma geral no tema, e no Mamilos fala mais especificamente sobre convergências e diferenças entre mulheres progressistas e conservadoras. Muito bom para (tentar) entender esses tempos e pensar em construir pontes.
Depoimentos de gente bacana sobre como praticar a democracia no dia a dia.
Reflexões filosóficas sobre ansiedade: fazia tempo que eu não ouvia a sabedoria da profa. Lucia Helena Galvão, e esse vídeo me aliviou tanto as caraminholas que nem sei explicar.
Já deixei aqui a palavra do Google Keep? É uma ferramentazinha (nada nova, mas que eu demorei para conhecer) que permite guardar coisas. Eu uso pra categorizar e salvar links diversos em pastas tipo “compras”, “livros”, “cursos”. Conveniente para reduzir as abas abertas e não ficar perdida no bloco de notas.
Entrei em uma pira de tentar fazer as roupas durarem mais, o que percebi que não envolve só não comprar fast-fashion, mas ter mais atenção na lavagem. As soluções encontradas por enquanto foram: 1) colocar as roupas dentro de saquinhos na máquina e 2) o Visto.bio, um spray que mata as bactérias e diminui o mau cheiro.
Esse macarrão com “pesto” de abacate é tudo.
Com algum atraso vi que Broad City, uma das séries de comédia mais divertidas de todos os tempos, chegou no Brasil, beninas, no Paramount+. Veja vejam vejaaaaaam.
Um lugar que eu gostaria de conhecer: a Ilha do Ferro (AL), um povoado à beira do Rio São Francisco que virou polo de artesanato.
até mais,
Betina
Ai Betina eu amo sua news, faz tempo que te acompanho!! Recentemente retomei o meu projeto de newsletter tbm, vejo que temos algumas lentes de olhar o mundo parecidas, enfim vou deixar o link aqui caso te interesse http://eepurl.com/h_O9uP
💕
Adorei! Chocada com a notícia da Idade Media 😱