Já ouvi por aí de ativistas de causas diversas algo do tipo:
“Eu luto para mudar o que não posso aceitar”.
Angela Davis, por exemplo, é conhecida por uma frase assim:
“Não aceito mais as coisas que não posso mudar, estou mudando as coisas que não posso aceitar.”
Entendo o que ela quer dizer.
Acho que considera “aceitar” sinônimo de se conformar, se resignar a uma realidade como ela se apresenta.
Em termos psicológicos, porém, é mais comum ouvir “aceitação” como parte fundamental de um processo de mudança.
Jung, por exemplo, falava muito de aceitar nossas sombras, nossas partes que nos envergonham.
Nesse sentido, aceitação parece remeter a reconhecer, encarar, assumir e até abraçar o que é. Não resistir.
Seguindo a máxima da sabedoria popular: aceita que dói menos.
Se referindo à nossa subjetividade, Tara Brach (americana, psicóloga, prof. de meditação) trabalha com a ideia da “aceitação radical”.
Para ela, a aceitação radical reverte nosso hábito de viver se julgando e se rejeitando.
Se aceitar radicalmente é se dispor a experimentar a si mesmo e a vida exatamente como ela está.
Aquela coisa de não ficar desmedidamente achando que a gente deveria ser de outro jeito, agir de outra maneira, estar em outro lugar. E também de aceitar as circunstâncias que nos rodeiam.
Ela sempre deixa claro que isso não tem a ver com conformismo ou uma atitude “sou/as coisas são assim mesmo, não tem jeito”.
É mais sobre conseguir olhar para o que é. E aí ver o que dá pra fazer, quando for preciso fazer alguma coisa.
Porque, no fim, tem muita coisa intrínseca à vida para aceitar: a passagem do tempo, a necessidade de manutenção do corpo, os limites, a morte.
Mas e aceitar o machismo que persiste, a destruição de Amazônia e o discurso do “imbrochável”?
Nesse entender, aceitar não é concordar, mas ser capaz de sustentar o fato de que essas coisas estão aí.
E aí ver o que dá para fazer.
Uma entrevista sobre a condominialização das grandes cidades e a cisão social.
Detesto criar urgências (rs), mas esse episódio de podcast sobre a teoria da “prateleira do amor” com Valeska Zanello, pesquisadora de saúde mental e gênero da UnB, é urgente.
Da série séries-para-descomprimir, Queer Eye Brasil tá fofo demais.
O Mercado Diferente é mais uma boa iniciativa para comprar orgânicos e combater o desperdício e a lógica doente do sistema alimentar (entrega em SP e ABC).
Assinemos o Amazônia de Pé.
Gostei muito de ouvir essa palestra com a americana Jenny Odell, autora do livro “Resista, não faça nada: A Batalha pela Economia da Atenção” (o título original é “How to Do Nothing: Resisting The Attention Economy”).
"Para além da curva da estrada
Talvez haja um poço, e talvez um castelo,
E talvez apenas a continuação da estrada.
Não sei, nem pergunto.
Enquanto vou na estrada antes da curva
Só olho para a estrada antes da curva,
Porque não posso ver senão a estrada antes da curva"Fernando Pessoa